O trauma psicológico - e o que podemos fazer para elaborar nossas experiências traumáticas
- Rafaela Klein
- 17 de abr. de 2024
- 2 min de leitura
Todos nós já ouvimos falar sobre o conceito de trauma, seja ele físico ou psicológico. É comum ouvirmos alguém dizer que ficou traumatizado devido a algum acontecimento, e isso é dito pelas pessoas tanto de forma séria quanto humorística. Em termos de trauma físico, se trata de uma lesão ao corpo que acontece após um evento externo inesperado e que na enorme maioria das vezes provoca dor. O trauma psicológico não é tão diferente disto, ocorrendo no âmbito do psiquismo da pessoa e trazendo dor também. Não é possível viver sem nunca ter passado por traumas, seja lá quais forem; são experiências que fazem parte da vida.
Para Freud e a psicanálise, um trauma psicológico ocorre quando há um acontecimento extremo demais para que o aparelho psíquico (ou seja, a mente) dê conta daquilo. Ocorre a partir de situações súbitas e inesperadas como, por exemplo, um acidente de carro, a perda de um ente querido ou um abuso sexual. No entanto, também pode ocorrer a partir de uma experiência contínua, como ter passado fome durante a infância ou ter passado por uma pandemia - como a pandemia do coronavirus, que se trata inclusive de um trauma coletivo que ainda estamos tentando elaborar.

Freud vai mais além e afirma que o primeiro trauma pelo qual passamos é o do próprio nascimento, e que passamos a vida toda tentando lidar com o desamparo, ou seja, a angústia gerada por esse momento. A angústia gerada pelo trauma é como um vazio, um buraco na alma que tende a se presentificar - ou seja, não importa há quanto tempo tenhamos passado pelo trauma, o sentimento de angústia em decorrência dele será sentido no momento presente. Esse “buraco” na alma é resultado de todo trauma pelo qual passamos, seja lá qual for.
Diante disto, podemos nos perguntar, e o que fazemos com tudo isto? Estamos fadados a ter que sofrer com a angústia causada pelo trauma? A resposta é que não, não estamos fadados, mas para isso é necessário um trabalho psíquico. O principal trabalho psíquico se trata de poder criar uma história sobre seu sofrimento e falar sobre ela a quem está disposto a escutar - como acontece na psicoterapia. A produção artística e literária também é uma maneira válida de expressar e lidar com o experiências traumáticas. Pode ser muito difícil encontrar palavras ou outras maneiras de expressar o trauma, e por vezes há até mesmo “fuga” desta tarefa, porém é preciso sempre seguir tentando. É desta maneira que conseguimos ir “tapando o buraco” causado por experiências traumáticas para podermos seguir nossas vidas sem sermos paralisados por um passado que insiste em se presentificar.
Referências bibliográficas:
Freud, Sigmund (1976). Inibições, sintomas e ansiedade (1926[1925]). Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud, Volume XX (1925-1926). Imago.
Maldonado, Gabriela, & Cardoso, Marta Rezende (2009). O trauma psíquico e o paradoxo das narrativas impossíveis, mas necessárias. Psicologia clínica, 21(1), 45-57.