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Há vida para além do maternar - sobre retomar a si mesma à medida que o filho cresce

  • Foto do escritor: Rafaela Klein
    Rafaela Klein
  • 18 de abr. de 2024
  • 3 min de leitura

Desde o começo da gestação, e às vezes até mesmo antes dela, a vida da gestante ou puérpera se reorganiza em torno de seu bebê. Espaços são criados dentro de casa para receber o filho, a rotina se reorganiza para se adequar à chegada do bebê, e para além disso, a percepção de si mesma vai se refazendo no psiquismo da gestante e da puérpera, que tem de reinventar a si mesma para que se perceba como mãe da nova criança que está a caminho. Especialmente no caso de mães de primeira viagem, é necessário reinventar-se para passar de um lugar exclusivamente de filha para passar a ser mãe também. Isso tudo para que quando o bebê nasça ele possa ser amado e receber os melhores cuidados possíveis.

Enfim o bebê nasce, e se trata de uma criaturinha muito indefesa, completamente incapaz de cuidar de si mesmo e que requer assistência 24 horas por dia, 7 dias por semana, em um contexto histórico-cultural no qual mães são responsabilizadas integralmente pelo cuidado com os filhos sem levar em conta o quanto esta é uma tarefa pesadíssima. Sendo assim a rotina da família, e principalmente da mãe, fica virada em leite, fraldas, choro e hormônios nas alturas, restando pouco ou nenhum espaço para os outros aspectos que compõem a vida de cada mulher.

Por um tempo este será o cotidiano da puérpera, e podem lhe ocorrer diversas inquietações em relação à perda de sua identidade anterior, uma vez que nesse contexto quase tudo que há é o cuidado com o filho. Porém, os bebês crescem (ufa!), requerendo ainda muitos cuidados mas não no mesmo nível de quando eram recém-nascidos. Assim começa a ser possível para a puérpera ir retomando aspectos de sua vida que ficaram de lado nos primeiros meses de vida do bebê, como o trabalho, o investimento nos relacionamentos, seus hobbies, o lazer, etc.


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No entanto, para muitas puérperas, poder começar a afastar-se de seu bebê também gera crises emocionais. Sentimentos de culpa por não estar dedicando 100% de seu tempo e energia para o filho, saudades do bebê quando está longe dele, medo de não ser mais importante para a criança, são muitos os sentimentos difíceis que podem ocorrer a partir do momento em que a mãe pode começar a retomar sua autonomia. São sentimentos que fazem parte da maternidade, não havendo maneira de escapar deles, mas que não podem estar dominando a vida da puérpera, correndo o risco de trazer prejuízo para sua relação com o filho. Se este for o caso, pode ser o momento de recorrer à psicoterapia para tentar compreender e lidar melhor com estas emoções.

A realidade que poucas pessoas levam em consideração é que este afastamento gradual é muito saudável e necessário inclusive para o bom desenvolvimento do bebê. É preciso que a criança tenha espaço para ir trabalhando na sua própria autonomia, e é necessário espaço também para que ela tenha a oportunidade de fazer vínculo com outras pessoas além da mãe. Nesse sentido, a presença da rede de apoio é imprescindível, sejam os familiares, amigos ou até mesmo a creche.

Sendo assim, podemos concluir que por mais difícil que seja a separação do filho após tanto tempo dedicando toda sua energia e tempo a ele, é vital que ela ocorra, para que a mãe possa desfrutar novamente da vida para além da maternidade e para que o próprio bebê possa se desenvolver de forma saudável, podendo conquistar sua própria autonomia. Não é uma tarefa fácil, e nisso observamos a importância de uma rede de apoio que seja capaz de dar o suporte necessário para a puérpera e seu bebê. Afinal, são esses momentos de separação que tornam tão especiais os momentos em que mãe e filho estão juntos.


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